quinta-feira, 6 de maio de 2010

O sofrimento chamado futebol

Hoje é mais um dia muito feliz para mim palmeirense. Apesar da derrota e eliminação na Copa do Brasil pelo poderoso Atlético Goianiense (digo poderoso pois o Palmeiras já foi eliminado uma vez pelo Asa de Arapiraca), devo confessar que estou muito feliz com a eliminação do Curintha da libertadores.
Infelizmente ou felizmente, estou acostumado a ter alegria com o meu time apenas de 12 em 12 anos em média. Nasci em 1977, exatamente no primeiro ano do maior jejum de títulos do Palmeiras. Só fui saber o que é ser campeão de alguma coisa com 16 anos de idade.
Em 1993 começou uma enxurrada de títulos: paulista, brasileiro, copa rio-são paulo; em 1994 veio o paulista e o brasileiro. Em 1996 novamente campeão paulista com um time inesquecível que marcou mais de 100 gols no campeonato. Em 1998 veio a copa do brasil e a mercosul. Em 1999 a libertadores da américa. Ainda sobrou uma copa dos campeões e um rio-são paulo em 2000. Aí tudo voltou ao normal. Novamente sem ganhar nada. O Palmeiras caiu até para a série B do brasileiro em 2002. Apesar de subir novamente em 2003 com o título, este me recuso a contar. Só voltou a ganhar alguma coisa expressiva em 2008 com a conquista do estadual. Passaram-se mais 8 anos sem ganhar nada entre 2000 e 2008.
Hoje, com a ridícula administração que vejo no clube, acredito que ainda esperarei mais alguns anos para ver o time ganhar alguma coisa novamente. Fazendo uma conta básica, eu vi o meu time ser campeão 12 vezes durante os meus 33 anos de idade.
Mas acredito que essa escassez de títulos é bom para um torcedor, pois ele deixa de ser fanático. Quando jovem eu era muito fanático, minhas irmãs podem confirmar. Não perdia um jogo, frequentava os estádios, ficava muito nervoso durante os jogos e muito arrasado com as derrotas e eliminações. Hoje, aprendi a não ser mais desse jeito. Posso afirmar que não sou mais fanático. Cresci e aprendi que a vida de um clube de futebol e a vida de um torcedor, apesar de parecem interligadas, não são. O fato do clube ser eliminado ou ser campeão não muda absolutamente em nada a vida do torcedor comum. O fato do nascimento de um filho ou a morte de um familiar do torcedor comum não muda absolutamente em nada a vida do clube.
Menciono torcedor comum, pois entendo que um torcedor fanático é muito afetado pelo clube e vice-versa. Um torcedor fanático faz apostas em função do clube e é afetado com a derrota do clube. Um torcedor fanático se revolta e danifica o patrimônio do clube. Percebam que o fanatismo faz com que o torcedor fanático e o clube fiquem muito interligados nos momentos ruins, ou seja, nas derrotas. Quando pensamos em momentos bons, poucas são as influências entre eles, mas nos momentos ruins...
Hoje, acredito que a ida a uma partida de futebol não é uma diversão e sim, um sofrimento. A falta de organização, de infra-estrutura, de educação e de outras tantas coisas, torna esse ato algo muito sofrido. Caso queira pagar um preço justo por um ingresso para assistir um jogo importante, você precisa perder um dia de serviço para enfrentar uma fila gigantesca. A outra opção é pagar um valor absurdo por uma cadeira numerada ou comprar de cambista que mereceria um post só dele.
Depois de conseguir o tal ingresso você precisa se preocupar em como chegar ao estádio. Opa! Espera um pouco! Se quiser garantia para entrar no estádio e conseguir um lugar descente, então é melhor chegar com umas três horas de antecedência. Mas não se preocupe, o lugar que você irá conseguir será muito confortável e a infra-estrutura do estádio fará com que essas três horas pareçam... uma eternidade. Você sentará em uma "cadeira" mais dura que o cimento. Se precisar ir no banheiro, Deus lhe ajude. Se sentir fome, Deus lhe ajude novamente. Se começar a chover, sinto muito; se fizer um sol escaldante, sinto muito novamente.
Mas tudo bem, o jogo é importante e sacrifícios precisam ser feitos. Deus está protegendo o seu carro que está lá em alguma rua sendo "cuidado" por um flanelinha. Afinal, você não tem coragem de ir ao estádio de transporte público, pois quando o jogo acabar você terá que voltar a pé, pois já passará da meia-noite. E mesmo que o jogo seja de dia, aquela massa de torcedores fanáticos que utilizam esse tipo de transporte não o deixa confortável para usá-lo também.
Sonho poder algum dia vivenciar uma era diferente. Uma era onde eu compraria o ingresso pela internet (igual ao do cinema ou teatro). Teria assim garantido um assento numerado. Mas numerado mesmo igual ao do teatro. Pudesse chegar no estádio com três horas de antecedência por opção. Somente para poder usufruir toda a infra-estrutura do lugar, áreas de lazer, restaurantes, etc. Pudesse ir e vir do estádio através de tranporte público descente. Mas sei que esse país é o Brasil e que esse sonho é impossível.
Infelizmente, meu tio e meu avô colocaram o Palmeiras em meu coração de uma maneira que não se pode mais tirar. Depois que você cresce com este tipo de sentimento por um clube, você não tem mais salvação. É impossível trocar de clube ou deixar de torcer.
Percebi que o que me faz mais feliz não são as conquistas do meu clube e sim as derrotas dos arqui-rivais. Se dependesse das vitórias do Palmeiras teria sido feliz apenas 12 vezes nestes 33 anos, mas as eliminações do Curintha foram bem mais numerosas e me deixaram igualmente ou mais feliz.
Gostaria de criar a minha filha de uma maneira totalmente diferente no que diz respeito ao futebol. Gostaria que ela crescesse sem torcer para nenhum deles e sim, contra todos eles. Assim, ela seria muito feliz.